Custody fight - pt. 1
Jul 19, 2015 23:10:45 GMT
Post by Naire Cardoso on Jul 19, 2015 23:10:45 GMT
- Você sabe que tudo vai melhorar, não sabe? - perguntou Chris, com a mão em seu ombro.
- É... Eu sei. - respondeu Alice, acariciando levemente a mão do marido.
Christopher se levantou do braço da poltrona, dando um beijo na testa de sua esposa antes de ir para a cama. "Não demore pra vir dormir, tá?", ela o ouviu pedir, e assentiu com a cabeça, apenas. Alice permaneceu sentada na poltrona, que apresentava alguns sinais de sua idade; leves rasgos nos braços e no recosto, vindos de anos das correrias e brincadeiras de "o-chão-é-lava" de James e Giovanna. A mulher alisava um destes rasgos, com os pensamentos flutuando na primeira infância de seus filhos. Eram pensamentos reconfortantes, em vista dos tempos difíceis que enfrentavam.
A família inteira de César e Daniel passava por uma terapia muito intensa, pois o sequestro de Peter havia acontecido há apenas um mês. Erick agora era uma criança órfã que provavelmente iria para o sistema de adoção, pois Nathan não tinha nenhum parente. Iris e Mike também enfrentavam seus próprios demônios com a recente volta de Emily. Ao fitar a lareira, Alice pensava no quanto isso tudo afetava seu próprio lar; ao abraçar a afilhada, a resposta era gelada e assustada, e a mulher reconhecia algo de si mesma quando mais nova na reação de Emily. James estava de coração partido por Emily voltar e estar tão diferente, tão abalada. Giovanna, como sempre, queria levar o mundo nas costas e tentar animar Iris, James e Ryan ao mesmo tempo. A família dos ruivos também passava por um inferno, por conta da proximidade das famílias de Rodrigo e César. Tudo estava errado. Alice levou a mão à testa, sem poder evitar um pensamento pessimista de que, de tempos em tempos, sempre acontecia alguma coisa terrívelmente infortúnia a todos. Era algo cíclico, e parecia ser um fardo permanente para todos eles.
O cansaço finalmente a venceu, e ela se levantou para apagar a lareira. Quando finalmente conseguiu extinguir o fogo, ela fechou o roupão e andou até a direção das escadas. Quando chegou na metade da escada, o telefone da sala tocou. Com um enorme estranhamento pelo horário da ligação, ela desceu com certa pressa e atendeu o telefone.
- Pois não? - perguntou, com certa ansiedade. Seus filhos não estavam em casa.
- Alice? Aqui é o Rodrigo. Preciso que você venha até a minha casa, agora. Eu preferiria discutir isso na promotoria, mas acho melhor mantermos sigilo. - ele disse, com certa exasperação na voz.
- ...Quê? O que houve? Meus filhos--
- Eles estão bem e dormindo, como as minhas meninas. Só... Venha. E traga o Chris. - disse o ruivo, desligando em seguida; provavelmente para evitar perguntas da parte de Alice.
***
Em instantes, Alice tinha acendido todas as luzes do quarto, no andar de cima. Jogava roupas em cima da cama, nervosa.
- Alice, se acalma. Ele falou por que? - perguntou Chris, relutantemente vestindo uma camisa pólo. Se recusou a trocar as meias, mesmo usando uma vermelha no pé direito e uma verde no pé esquerdo.
- Não, ele só falou para irmos, e parecia sério. - ela retrucou, tirando o pijama rapidamente e jogando um vestido qualquer por cima das roupas íntimas. Acabou embolando o vestido e levou mais tempo do que gostaria para finalmente descer a saia, e após conseguir, pegou Chris encarando-a. Era a mesma cara que sempre fazia quando a via trocando de roupa.
- CHRIS!
- OKAY, okay, calças. E sapatos. Tô indo.
***
Vinte minutos depois, o casal encontrou Rodrigo sentado na varanda de sua casa, de braços cruzados. Alice estacionou o carro na frente da casa e desceu sem nem desligá-lo. Chris soltou um suspiro e tirou a chave da ignição, trancando a porta do lado do motorista e finalmente saindo do carro. Quando chegou à varanda, Alice já enchia o ruivo de perguntas, enquanto ele tentava encontrar a chave da porta da frente.
Rodrigo só começou a falar quando os três se fecharam em seu escritório particular.
- Pelo amor de Deus, Rodrigo, desembucha. - pediu Alice, já irritada com o suspense.
- Certo, certo... Céus, eu devo ser a pessoa menos qualificada pra te falar isso, mas vamos lá. - ele pigarreou, e continuou, puxando uma pasta de sua gaveta. - Como vocês devem saber, eu estou cuidando do caso do sequestro do meu sobrinho, e consequente morte do sequestrador, o Sr. Frostheart. - Rodrigo se recusava a tratar Nathan como inocente, ou mesmo como um ser humano, mas tinha sido assassinado mesmo assim. - Assim sendo, todas as informações que tenham a menor relação com o caso, também chegam em minhas mãos e... Bem, eu acho que você gostaria de ver isso aqui, Alice. - ele estendeu a pasta para ela, que a agarrou com as mãos trêmulas.
- O que é isso? - perguntou, abrindo a pasta e olhando para os documentos de dentro. Ela tentava entender o que aquilo significava. - Pedido de custódia de Erick Frostheart... Ele tem algum parente vivo? O que--
- Segunda página, eu sublinhei o nome da requisitora. - Rodrigo respondeu, e aguardou.
Os olhos da mulher - e os de Chris, por cima de seu ombro - se fixaram no nome "Beatrice S. Lanzelotti". Chris fitava o papel incrédulo, e sem perceber, colocou a mão no ombro de Alice novamente. A morena, contudo, não demonstrou reação alguma. Ela ergueu os olhos, fitando o ruivo à sua frente.
- Mas que PORRA é essa, Rodrigo? - ela perguntou, com uma calma gélida. Era como a calmaria que precede a tormenta.
- Aparentemente, sua mãe possui suporte legal para requerer a guarda de Erick, por ser, bem... Avó materna dele. Comprovadamente, avó materna dele. - ele abriu a gaveta novamente, puxando outra pasta, que entregou na mão de Alice. Ela, por sua vez, colocou a pasta do pedido de custódia na escrivaninha de Rodrigo, pegando a outra pasta lentamente, sem a ansiedade de antes. Ao abrir, ela se deparou com uma fotografia antiga e meio descascada de uma moça bronzeada, com um sorriso muito branco e rosto jovem. O nariz e o formato do rosto lhe eram familiares.
- Beatrice Marie Sanchez. - ela leu o nome no arquivo, para si mesma. Na certidão de nascimento da jovem, constava o nome de Beatrice Lanzelotti como progenitora, e sua data de nascimento era de dois anos antes do seu próprio. A mãe de Erick era sua irmã... O que fazia de Erick seu sobrinho. Essas associações todas a deixaram entorpecida por alguns momentos.
Enquanto isso, Christopher observava os papéis em cima da mesa de Rodrigo: eram claramente fotocópias.
- Rodrigo... Esses não são os arquivos originais da promotoria, são? - o moreno perguntou, incrédulo.
- ...É, você me pegou. Entende por que eu não podia discutir isso por telefone ou em um lugar não-sigiloso? - ele respondeu, nervoso, enxugando o suor da testa com um lenço.
- Sim, eu entendo, mas--
BAM.
Alice socou com força a escrivaninha de Rodrigo, apertando a foto da irmã com força na outra mão. Os dois, que há algum tempo não viam a mulher perder o controle, congelaram por uma fração de segundo. Chris, então, tirou a pasta da mão dela.
- Alice...
- NÃO. Rodrigo, você conhece essa pessoa. Você também, Chris. ELA ESTUDOU COM A GENTE NO COLEGIAL. - Alice disse, levantando a voz. - EU CRUZAVA COM ELA NO CORREDOR TODOS OS DIAS. - a morena se levantou, e começou a circular pelo escritório, ainda apertando a fotografia nas mãos. - MERDA. AQUELA PUTA DA MINHA MÃE. AQUELA PORRA DE CRIA DO DIABO. - sua voz começava a quebrar. Ela finalmente estacou no meio do escritório, e cobriu o rosto com uma das mãos. Nisso, Christopher já se encontrava de pé, e com cuidado a conduziu de volta para a cadeira. Então, fitou Rodrigo com seriedade, que entendeu e assentiu para ele.
- Alice - começou o ruivo -, eu não te chamei aqui só pra despejar a notícia em você. De forma prática, todos nós sabemos que a sua mãe seria uma péssima guardiã para o Erick. Acontece que, se ela tem direito à custódia por ser avó, você também tem por ser tia dele. Se vocês quiserem, podemos arquivar o seu pedido de custódia amanhã cedinho. Eu sei que é muito pra processar agora, mas...
- Nós queremos. - interpelou Christopher, apertando fortemente a mão de sua esposa. - Nós queremos a custódia do Erick. O que precisa ser feito?
- Precisamos dessa lista de documentos no que concerne a família de vocês. - respondeu o ruivo, retirando de seu bolso uma lista manuscrita e entregando a Chris. - Tão logo vocês consigam reunir essa documentação, já podem requisitar um pedido de guarda do Erick. Vocês têm alguma pergunta?
- Por que, Rodrigo? - perguntou Alice, com os olhos vermelhos e marejados. - Essa quebra de sigilo pode fazer você perder o emprego.
- Eu sou cuidadoso, pode ficar tranquila. Eu só acho que... Vocês são a melhor chance do Erick ser a fruta que caiu longe do pé. Além do mais, não ia me perdoar se você só ficasse sabendo dessa história toda após a decisão do juiz. - então ele encolheu os ombros, em conclusão.
- Muito obrigado, mesmo. - agradeceu Chris, devolvendo os arquivos para o ruivo. - Sei que o certo é você queimar isso tudo, mas podemos ficar pelo menos com a fotografia? - ele perguntou, notando que seria muito difícil arrancá-la da mão de sua esposa.
- Claro que sim. Só não a coloquem em um porta-retratos, por favor. Ninguém pode saber sobre o que conversamos hoje. Me deem essa noite para eu pensar em uma forma plausível de vocês terem descoberto sobre a mãe do Erick, ok? Depois combinaremos a história que a imprensa vai ouvir.
- Imprensa? - questionou Alice.
- Ah, sim. Pra conseguir a guarda do Erick vocês precisam, antes de mais nada, de algo forte para desacreditar a capacidade da sua mãe de criar um adolescente. Vamos usar a imprensa pra isso. - ele explicou, sucinto.
- Podemos discutir esses detalhes amanhã. - Christopher colocou, assertivo. Ele se levantou, oferecendo apoio para Alice se levantar, e Rodrigo rapidamente os levou até a porta da frente. Com um breve aperto de mão trocado pelos dois homens e um silencioso abraço que Alice deu em Rodrigo, o casal partiu.
***
A volta para casa foi silenciosa. Após o que pareceu uma eternidade, finalmente chegaram em casa novamente, e trocaram suas roupas pelos pijamas de forma automática, ainda processando tudo aquilo. Os dois se deitaram, e Chris abraçou Alice, que se encontrava de costas para ele.
- Fico pensando se ela era tão sozinha quanto eu. - ela disse, baixinho. Chris apenas suspirou, esperando que ela continuasse. - Não precisávamos ser sozinhas, sabe. Mas até isso ela tirou de mim.
- Ainda podemos ficar com o Erick. Ela não vai ganhar essa. - ele a respondeu, também baixinho. - Hey, olha pra mim...Você sabe que tudo vai melhorar, não sabe? - perguntou ele pela segunda vez naquela noite, girando o corpo de Alice para conseguir ver seu rosto.
- É... Eu sei. Obrigada, Chris.
E após uma longa e agitada noite, Alice finalmente caiu no sono, aconchegada no ombro molhado de seu marido. Christopher, por sua vez, passou a noite em claro. Poderia estrangular a própria sogra, se não tivesse mais com o que se preocupar.