Press Conference @Hotel The Palms - Aprox. Fev/201x
Dec 23, 2014 23:14:31 GMT
Post by Bruno Henrique on Dec 23, 2014 23:14:31 GMT
Daniel von Wolfhausen estava cansado de ouvir seu telefone tocar desde que a notícia estúpida que havia dado um golpe na empresa de seus pais se espalhara pela internet como fogo em um palheiro, deixando-lhe mais irritado do que o esperado quando terminou de ler o comentário ácido da mulher sobre seu passado. Estava tão enfurecido que, cego em seu ódio, já havia abandonado sua nudez comum aos dias que ficava em casa por roupas, agarrando a chave do carro em seguida. Somente se deu conta do milésimo toque pelos cabelos loiros que surgiram na tela do iPhone, fazendo-lhe parar alguns segundos para processar a informação e atendê-lo.
- Querido, liguei assim que li a fofoca ridícula que aquele fósforo queimado publicou sobre você - ouviu a voz gentil e suave de Joanne Haunt do outro lado da linha - Por favor, me diga que você está bem e fez nada estúpido.
- Defina estúpido - ele resmungou, respirando fundo.
- Nada que irá se arrepender depois.
- Ah, eu com certeza não vou me arrepender de por as mãos naquela biscate e arrancar até o último pelo do cu ruivo dela, eh?! - respondeu rispidamente enquanto abria a porta e passava a andar pelo gramado congelado à sua frente.
- Daniel, você não está indo para a fraternidade tirar satisfa... Oh, céus, Daniel! - ela guinchou exasperada - Daniel, pense comigo. Você somente vai dar mais motivos para que ela escreva de você. Por favor, tem que haver outro jeito.
- Jojo, você não espera que eu fique quieto depois de tudo o que ela falou do Peter, de mim... De você! Porra! Ela indiretamente te chamou de amante biscate, eh?! Eu vou lá e irei... Calmamente... Dizer que ela é uma idiota com a cabeça no meio do rabo, que é uma mentirosa do caralho e que eu vou virar ela do avesso pela porra das vísceras delas e hastear a pele dela como se fosse uma bandeira no caralho daquele cabo inútil que eu tenho em casa se ela se atrever a usar aquela boca de boquete pra falar de mim, do meu filho ou meus amigos alguma outra vez na vida infeliz daquela puta rampeira.
- Calmamente - ela repetiu do outro lado - Você não irá fazer isto. Nós... Querido, você sabe que eu já teria metido a mão na cara daquela vagabunda há muito tempo se eu não soubesse o que aconteceria depois.
Daniel pode sentir Joanne revirando os olhos do outro lado, como faria se estivessem frente a frente. Era o mesmo hábito que ele possuía em fechar o cenho, assim como os punhos, e ficar rosnando como um lobo quando estava irritado.
- Ok... Você tem razão. Eu vou dar um jeito. Só preciso de um tempo.
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Ódio.
Este era o único sentimento que preenchia o peito de Daniel quando ele terminou de enlaçar a grava em seu pescoço, um tecido azul turquesa que parecia destacar ainda mais seus olhos acinzentados. Respirou fundo algumas vezes para extravasar, mas não parecia surtir muito efeito. O que conseguia pensar era que aquela garota havia conseguido quase destruir sua vida com um único artigo, simples o suficiente para fazer com que os acionistas da Wolfhausen Corporation passassem a questionar se haviam eleito o presidente correto para administrar a empresa, fazendo com que, consequentemente, as ações da empresa caíssem como uma bomba na bolsa de valores. Diariamente, o moreno perdia milhares de dólares como consequência, sendo necessário agir imediatamente. Não bastassem os problemas na companhia, havia recebido a ligação de seu advogado e também cunhado, dizendo que a Corte americana havia negado seu pedido de adoção, baseando-se nas falsas notícias publicadas por Amelia Chase. Chorou quando ouviu. Seu coração havia se partido em diversos pedaços, sabendo que havia perdido a chance de dar um lar a uma criança que precisava de cuidados e que estava à mercê de pessoas que não se importavam, que não queriam saber de seu bem estar.
A esperança voltou a lhe raiar quando, de súbito, decidiu que faria uma declaração pública sobre as alegações. Quando pensou nisto, fez algumas ligações e logo estava agendado que iria fazer uma aparição pública no Hotel The Palms, a primeira depois de longos meses sem dar as caras. Lá estava ele, em um quarto de hotel se preparando para o que seria um esclarecimento sobre muitas coisas que ele preferia deixar quietos em seu peito: o sequestro de seu filho e seu relacionamento com seus pais. Mas precisava se expor, se ainda quisesse ter Delilah, a menina que adotaria, para si.
Seu estresse era visível e havia pedido a todos para que não lhe incomodassem durante o dia. Participou de massagens chinesas, saunas, algumas horas na academia e muito tempo em silêncio no quarto. Somente quando o relógio bateu as 18h que ouviu a porta de seu quarto bater levemente, dando espaço para que Iris, Jared e Joanne entrassem. Queria que a atriz lhe preparasse para o momento, deixando-lhe brincar com sua maquiagem para que ficasse aos menos apresentável enquanto conversava com os outros dois para se distrair, voltando sua atenção ao seu problema somente quando chegara as 20h da noite. Com alguns desejos de boa sorte, encaminhou-se para o elevador e, dali, para o salão de eventos.
O salão de eventos do Hotel The Palms era imenso. No entanto, ainda assim, não era o suficiente para comportar a quantidade de pessoas que ali disputavam um lugar para vê-lo. Eram fãs, jornalistas e pessoas que se apresentaram para gritar xingamentos enquanto ele se encaminhava para a mesa de conferência. Os flashes não paravam de piscar a cada passo que dava e parecia que os segundos para chegar ao outro lado da sala eram intermináveis. Quando chegou e se postou em pé, frente a uma mesa oratória e um microfone, que o silêncio se tornou inquietante. Era possível ouvir o respirar de cada um dos presentes.
- Gostaria de agradecê-los em comparecerem nesta noite - começou, sem muita certeza do que dizer - Agradeço aos fãs que vieram me apoiar e, também, aos jornalistas e críticos que se interessaram em ouvir o outro lado da história, eh. Em primeiro lugar, eu vou me apresentar, mesmo que todos aqui saibam meu nome. Eu sou Daniel von Wolfhausen. Eu sou canadense, nascido em Londres e criado em Toronto por até minha adolescência. Quando eu era pequeno eu... Bom, eu não tive uma família que todos considerariam comum, eh? Eu...
Sua voz enfraqueceu rapidamente.
Era um narcisista, claro, afinal, tinha uma boa aparência, era rico e influente. Não havia o que temer em ficar à frente de tantas pessoas que sequer sabia o nome e falar sobre seu trabalho ou sua empresa. Mas daquela vez, tudo era diferente. Ele não estava ali para promover um produto que nunca havia usado. Estava ali para falar sobre suas vulnerabilidades.
E, Deus, como aquilo era aterrorizante.
Sentia-se acuado e incomodado, parecendo que a cada segundo que passava, os botões de sua camisa se apertavam um pouco mais em seu peito a ponto de deixá-lo quase sem ar, e vez ou outra até esquecia de respirar. Tentou molhar a boca seca com um gole do copo de água próximo, mas quando a bebida tocou seus lábios, não lembrava como deveria engolir, fazendo uma careta para cumprir a tarefa. Tudo o que mais queria era sair dali.
Sentia-se acuado e incomodado, parecendo que a cada segundo que passava, os botões de sua camisa se apertavam um pouco mais em seu peito a ponto de deixá-lo quase sem ar, e vez ou outra até esquecia de respirar. Tentou molhar a boca seca com um gole do copo de água próximo, mas quando a bebida tocou seus lábios, não lembrava como deveria engolir, fazendo uma careta para cumprir a tarefa. Tudo o que mais queria era sair dali.
- Porra, eu nasci numa cidade pequena perto de Toronto, há duas horas de lá. Passei pouco tempo na maternidade e, quando saí, fui direto para a cidade que eu considero como a minha cidade natal. Fui da maternidade pra Wolfhausen Corporation, que na época era um banco pequeno em Downtown - ele riu, olhando para a madeira de seu palanque, evitando subir o olhar para sua plateia - Minha mãe havia deixado o trabalho por longos cinco dias para eu nascer e não podia usar o computador na maternidade. Ela havia pedido pra me darem alta mais cedo porque a empresa não podia esperar meus pulmões resolverem respirar sozinhos. Claro que eles não deixaram. Ela saía para trabalhar e ia ao hospital para me dar de mamar e ia embora logo depois.
O homem coçou a nuca, piscando algumas vezes enquanto voltava a encarar as pessoas. Era incrível como sentia o olhar penetrante delas, como se fosse julgado cada vez mais.
- Eles viajavam demais, sabe, para resolver os problemas da companhia. Estavam expandindo os negócios para Saskatchewan e Alberta, consolidando o mercado em Québec. Eu era muito pequeno e não podia acompanhar porque precisava ficar na escola, então eu morava em uma mansão com outros cinco funcionários, a Ellen McEntire, Howard Downey, Linda Daikovski, Maria Consuelo Rodriguez e Elliot James. No começo era tranquilo para mim, eu não sabia o que estava acontecendo, mas sempre recebia um brinquedo ou outro. Daí eles perderam meu aniversário de cinco anos porque estavam em uma reunião com o presidente do Banco Central em Ottawa. Caralho, vocês sabem o que é não ter ninguém da sua família ou nenhum amigo em seu aniversário? - ele ergueu as sobrancelhas, deixando com que a voz falhasse de novo - Então foi assim pelos próximos dez anos. Eu e os funcionários, que eu serei sempre grato. Sempre havia alguma reunião no meu aniversário. Eles mandavam algum presente por correios, porque não tinham tempo para me ligar ou fazer uma conferência. Esses presentes tornaram uma bela coleção de miniaturas de carros que eu possuo em casa, aliás.
Ele deu um sorriso fraco, desistindo em seguida, ao ver as expressões duras dos jornalistas. Seu olhar se perdeu em meio a multidão até que pousassem em Peter, que estava pouco à frente de César. O armário repleto de carrinhos ficava exposto em um quarto junto às outras conquistas do homem, como diplomas, condecorações, troféus e medalhas. Daniel havia feito um quarto para cada um de seus moradores para que pudessem preencher com o que lhes esquentasse o coração. Peter tinha um quarto repleto de medalhas, também, mas o principal eram suas fotografias de shows que fizera junto à sua banda quando esteve na Europa. O pensamento lhe trouxe lágrimas aos olhos.
- Acho que... Bom, eu não falava com meus pais direito porque quando cheguei aos meus doze ou treze anos, eu pensei... Porra, por que eles não olham para mim, eh?! O que eu fiz de errado pra isso? Foi aí que eu decidi entregar o filho que eles queriam que eu fosse. Comecei a arranjar brigas na escola porque brincavam que eu não tinha pais. Diziam que meus pais me odiavam tanto que preferiam horas em um escritório do que brincar comigo e... Eu quis provar que estavam errados. Mas eu fiz do jeito errado porque não tinha como mostrar que meus pais me amavam se nem eu acreditava nisso. Eu tentei chamar a atenção deles. Essa raiva foi juntando aqui dentro e eu passei a perseguir qualquer pessoa que pudesse ser melhor do que eu. Eu fui um vândalo, infelizmente. Bati em diversas pessoas, as humilhei e fiz com que se sentissem como um lixo. As jogava dentro de caçambas como se fossem. E eu sinto muito por toda a dor que eu causei a estas pessoas, do fundo do meu coração. Quando olho para trás, tudo o que penso é na dor que eu proporcionei e isto me mata para caralho. Eu sinto muito.
Sua voz falhara novamente, respirando fundo enquanto fechava os olhos e deixando a culpa que lhe apossava acalmar. Não podia ser tomado por suas emoções, não naquele momento. Precisava se manter forte.
Lembrava quando em meio a suas caçadas por pessoas "inferiores", havia quase perdido a amizade de Jared. O outro não mais concordava com as atitudes de Daniel ao notar que o que faziam não era tão divertido quanto imaginavam, que somente causava dor. E havia levado um tempo para que o moreno de feições lupinas entendesse que ele estava certo. Afinal, aquilo se tornara uma barreira de proteção para o atleta, uma válvula de escape que utilizava para esvair de suas frustrações. Quando precisou lidar os sentimentos ao invés de jogá-los fora, o baque fora grande, e o bancário pensou que iria enlouquecer.
Lembrava quando em meio a suas caçadas por pessoas "inferiores", havia quase perdido a amizade de Jared. O outro não mais concordava com as atitudes de Daniel ao notar que o que faziam não era tão divertido quanto imaginavam, que somente causava dor. E havia levado um tempo para que o moreno de feições lupinas entendesse que ele estava certo. Afinal, aquilo se tornara uma barreira de proteção para o atleta, uma válvula de escape que utilizava para esvair de suas frustrações. Quando precisou lidar os sentimentos ao invés de jogá-los fora, o baque fora grande, e o bancário pensou que iria enlouquecer.
- Passamos anos sem nos falar porque eles estavam ocupados demais pra mim. Ocupados demais pra perceber que eu havia me tornado um homem e que, vejam só, eu tive um filho! Eles não visitaram Peter quando ele foi para casa. Eles somente deram as caras quando ele completava 16 anos, achando que eu havia tido uma filha e que seria a super festa de dezesseis - riu sozinho, enquanto a plateia continuava muda desde que abrira a boca - Eu gostaria também de esclarecer que eu nunca ameaçaria de fazer qualquer coisa dessas com a minha mãe, por... Mais difícil que ela seja. Ela ainda é minha mãe e eu a amo, mesmo que ela tivesse querido tirar minhas ações da Wolfhausen fazendo com que eu argumentasse com os acionistas para que me mantivessem. Fui eleito como presidente não pelo medo, mas por mostrar que eu também colaborei com a empresa.
Daniel ficou quieto um tempo, voltando sua atenção para a estrutura de madeira à sua frente. Cada segundo falando parecia uma tortura para ele, mas sabia que era o único jeito de sair daquela situação com a cabeça erguida.
- Nathan Frostheart foi um homem que me perseguiu por anos. Ele me torturou psicologicamente de todas as formas possíveis e conseguiu quando sequestrou e torturou ao meu filho para que me atingisse. Foram dias que eu não conseguia dormir, era fechar meus olhos e lá estava aquele filho de uma puta matando meu filho diversas e diversas vezes na minha imaginação. Eu estava destruído. E o que os jornais não falaram quando encontraram o Peter é que, não somente Nathan havia destruído meu filho fisicamente, mas ele havia quebrado quem ele era em milhões de pedaços. Eu enfiei uma bala na cabeça daquele homem, sim, e o faria de novo. E quantas vezes fosse necessário para salvar Peter quando ele tentou matá-lo durante um jogo de "roleta russa".
As memórias da cena lhe perturbavam até aquela data. Lembrava do cheiro do sangue de Peter, o modo como o garoto sangrava quando o tiro do revólver segurado por Nathan lhe atingiu o peito, fazendo que o menino ficasse entre a vida e a morte devido à quantidade de sangue que havia perdido. Seus olhos encheram de lágrimas novamente, não conseguindo se conter desta vez. Eram lágrimas que somente ele sabia o que significavam, a dor que carregavam por ter quase perdido a pessoa que mais amava em toda a sua vida.
- Eu nunca encostei um dedo no meu filho, nunca. Muito menos em meu marido. Eu não teria coragem de causar mais dor do que eu causei em toda a minha vida, não me perdoaria por isto. Então para vocês que estavam se perguntando da história por trás da notícia infortuna de uma mulher que somente busca destruir a vida dos outros por seu bel prazer, é isto o que tem por trás das portas da Wolfhausen Corporation. Uma família que se esforça em sobreviver como qualquer outra. E eu gostaria de deixar um recado para Amelia. Eu tenho pena de você. Eu tenho pena do seu futuro quando ninguém mais conseguir ficar perto de você. Você é um ser humano desprezível. Mas ainda assim, eu me ponho à disposição caso necessite de ajuda algum dia, porque eu sei a dor que sentimos quando ninguém quer nos dar a mão ao chegarmos ao fundo do poço. Somente espero que você não perca tudo o que tem para perceber o mau que causou aos outros e a si mesma. Obrigado a todos pela presença.